De António Nicolau de Almeida a André Villas-Boas. 130 anos de história dos presidentes do FC Porto

De António Nicolau de Almeida a André Villas-Boas. 130 anos de história dos presidentes do FC Porto
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Porto Canal

Ao ser eleito presidente do FC Porto, André Villas-Boas tornou-se o sucessor de 31 homens que, desde 1893, transformaram uma sociedade de amigos ricos que se juntavam para praticar futebol numa potência desportiva internacional. Foram muitos os que deram contributos decisivos para o avanço do clube, mas nenhum se distingue mais do que Jorge Nuno Pinto da Costa, o líder mais longevo e titulado da história do desporto mundial.

 
 
 
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Os primeiros Estatutos do FC Porto determinavam que “compete ao presidente: presidir às sessões [da direção] e dirigir os seus trabalhos; assinar diplomas, ordens ou quaisquer documentos do clube; representar o clube sempre que seja necessário”. Principal responsável pela condução da vida do clube, o presidente do FC Porto - ou, com mais rigor, a sua direção e os restantes órgãos sociais - é eleito democraticamente pelos associados desde os tempos da monarquia constitucional. O sufrágio mais participado de sempre foi o de 27 de abril de 2024 - contou com 26.876 sócios e resultou na eleição de André Villas-Boas -, enquanto o menos concorrido aconteceu a 27 de junho de 1915 - quando apenas 12 associados elegeram António Borges de Avelar.

Durante estes 130 anos e sete meses, nenhuma liderança foi tão longa como a de Jorge Nuno Pinto da Costa, que tomou posse pela primeira vez a 23 de abril de 1982 e se manteve continuamente em funções até 7 de maio de 2024 - ou seja, durante 42 anos. Em contraste, a presidência mais curta foi a de Júlio Garcez de Lencastre, eleito a 16 de março de 1911 para completar os seis meses em falta do terceiro mandato de José Monteiro da Costa, falecido em funções. Houve cinco homens que foram presidentes do FC Porto em momentos distintos: Sebastião Ferreira Mendes (1927-1928, 1932-1934), Eduardo Dumont Villares (1930-1931, 1934-1936), Urgel Horta (1928-1929, 1951-1954), Luís Ferreira Alves (1943-1945, 1959-1961) e Cesário Bonito (1945-1948, 1955-1957, 1965-1967).

As elites sociais do Porto e do Norte de Portugal têm sido o principal campo de recrutamento dos líderes do clube. O fundador António Nicolau de Almeida era comerciante de vinho do Porto, enquanto José Monteiro da Costa, responsável pela revitalização do FC Porto em 1906, era herdeiro de um importante horticultor da Invicta. Entre a lista dos presidentes encontram-se titulares de diversas profissões e funções, como advogados - Américo de Sá, Ângelo César, Guilherme do Carmo Pacheco -, banqueiros - Afonso Pinto de Magalhães, Luís Ferreira Alves -, médicos - Cesário Bonito, Miguel Pereira, Urgel Horta -, militares - Augusto Sequeira, Júlio Garcez de Lencastre - e políticos - Américo de Sá, Ângelo César, Urgel Horta. Alguns dos primeiros presidentes jogaram futebol no FC Porto, mas André Villas-Boas é o primeiro com passado como treinador.

Nenhum líder faz sombra - nem no clube, nem no resto do mundo - a Jorge Nuno Pinto da Costa no que toca a títulos conquistados - considerando todos os escalões e modalidades, foram 2.591, o que corresponde a uma média de um troféu a cada seis dias. Em 42 anos de presidência, o homem que como diretor do departamento de futebol já tinha estado na génese das vitórias em dois campeonatos e uma Taça de Portugal somou 68 troféus: duas Taças dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões, duas Taças Intercontinentais, duas Taças UEFA/Liga Europa, uma Supertaça Europeia, 23 Ligas, 15 Taças de Portugal, 22 Supertaças, 1 Taça da Liga. Este palmarés supera largamente os de Florentino Pérez (Real Madrid, 32 troféus), Santiago Bernabéu (Real Madrid, 30) e Silvio Berlusconi (AC Milan, 29), que se seguem na lista dos presidentes mais vitoriosos da história do futebol. O antecessor de Jorge Nuno Pinto da Costa com mais sucesso havia sido Américo de Sá, associado à conquista de quatro títulos.

Uma vez que Portugal é um dos países mais centralizados da Europa e que as instituições sediadas fora de Lisboa estão à partida em desvantagem competitiva, ser presidente do FC Porto não implica apenas lutar por troféus, mas também combater a concentração de poderes que sempre beneficiou os clubes da capital. Jorge Nuno Pinto da Costa distinguiu-se neste aspeto e afirmou-se como a principal voz do Norte insubmisso na transição do século XX para o XXI, mas teve alguns antecedentes notáveis. Ângelo César Machado, apesar de ser deputado na Assembleia Nacional e partidário do regime do Estado Novo, não hesitou em denunciar os prejuízos causados pela Federação Portuguesa de Futebol e pelos árbitros ao FC Porto e foi por isso irradiado do dirigismo em 1940. A mesma pena viria a ser aplicada 15 anos mais tarde a Cesário Bonito, depois de se insurgir contra o adiamento de um jogo com o Sporting causado pela circunstância de os lisboetas não poderem contar com Travassos, um dos seus melhores jogadores, retido no aeroporto de Madrid devido ao nevoeiro: “Íamos na vanguarda do Campeonato… E isso tem de pagar-se muito caro! E então, vá de entrar-se no caminho da habilidade e da violência, esmagando-se direitos e deveres, cuspindo-se atrevidamente na ética desportiva, insultando uma cidade e uma região!”.

Em mais de 130 anos e com uma aceleração no último meio século, o FC Porto especializou-se na superação de dificuldades internas e externas. Foram várias as crises diretivas e financeiras, os obstáculos a enfrentar para construir os estádios das Antas e do Dragão, os conflitos com o poder político, as instituições desportivas ou a imprensa. O balanço só pode ser positivo. Em 2024, o clube tem o melhor palmarés do futebol português. E tem problemas por resolver e desafios para encarar. Ao tomar posse como 32.º presidente do FC Porto, André Villas-Boas torna-se herdeiro deste património de luta, superação e sucesso.

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